quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sobre vampiros e lobos

Em novembro estréia a segunda parte do último filme da saga Crepúsculo nos cinemas, e a data é mais do que adequada para esquadrinharmos a série e discutir os pontos mais polêmicos. Entre adolescentes histéricas e leitores incrédulos, os livros de Stephenie Meyer ficaram na lista dos Best Sellers americanos por tempo suficiente para ser respeitado, então, deixemos de lado o preconceito e o ceticismo e olhemos tecnicamente para a obra.
Do ponto de vista estrutural, Meyer conseguiu concluir os livros de maneira redonda, sem deixar buracos. O objetivo da história é claro desde o início: Edward, o vampiro “vegetariano”, e Bella, a humana destrambelhada, encontrarão um modo de ficarem juntos para sempre. Ao redor dessa meta, Meyer enlaçou sua trama em um sistema de problemáticas em cadeia.
Em Crepúsculo, a primeira problemática aparece quando vampiros que não pertencem ao clã dos Cullen – ou seja, vampiros que não se abstinham de sangue humano – aparecem na região e um deles fica irremediavelmente interessado em matar Bella. Aqui, a problemática é parcialmente resolvida, quando o namorado-vampiro da personagem e sua família acabam com a ameaça e salvam a vida dela.
O segundo livro, Lua nova, apresenta a segunda problemática central: o sofrimento de Bella ao ser abandonada por Edward. O problema apresentado no primeiro livro fica em segundo plano, até o momento em que a personagem descobre que Victoria, parceira do vampiro que quisera matá-la no ano anterior, a está caçando para vingar a morte do seu amado. A partir daí, o livro equilibra as duas problemáticas.
 A segunda questão é resolvida quando a personagem sai em busca do seu ex-namorado na Itália, acarretando na terceira problemática da série: Bella terá que se tornar vampira ou será assassinada pelos Volturi, um clã italiano de vampiros, o mais forte e influente do mundo de Meyer.
Em eclipse, terceiro livro, a primeira problemática terminará de ser resolvida. Uma guerra entre a vampira Victoria e seu exército de vampiros recém-criados contra o clã dos Cullen e os lobisomens que defendem a região. Terminada a luta, Bella aceita se casar com Edward sob a condição de ser transformada em um deles no próximo ano.
Como fica evidente, o terceiro livro termina com um indício de que a terceira problemática será resolvida logo no início. Contudo, criativa como é, Meyer criou uma quarta problemática. Em Amanhecer, quarto e último livro da série, Bella engravida de Edward logo após o casamento. Ninguém conhece a natureza do bebê, pois nem mesmo os vampiros achavam que era possível uma fecundação entre as espécies. A gestação avança rapidamente, sugando a vida de Bella. Edward já não sabe se é capaz de salvar a vida dela quando o momento do nascimento chegar e a personagem, por sua vez, se recusa a fazer o aborto.
Apesar disso, o problema central só chega após o nascimento da criança semi-humana. Pelas leis do clã italiano, é proibido a existência de crianças vampiras, o conhecimento sobre a filha de Edward e Bella leva os Cullen e todo o apoio que conseguem juntar, em uma guerra contra os Volturi. A quarta e última problemática é resolvida, fechando a cadeia da trama de Meyer.
A estrutura de corrente que Meyer utilizou não é propriamente singular, porém, foi muito bem trabalhada, uma vez que conseguiu concluir com êxito todas as problemáticas que criou e, intercalando-as entre os livros, conseguiu relacionar todos os volumes, de uma maneira a deixá-los interdependentes. Ao contrário de séries como “Fallen”, em que os quatro livros giram em torno de uma única problemática, numa estrutura linear, tornando o tempo narrativo incomodamente rápido.

Críticas
As maiores críticas sobre a série são sobre os vampiros. Meyer distorceu a imagem original destes seres que são, geralmente, retratados como noturnos, que morrem se forem atingidos pela luz solar. Seres com presas afiadas, sem reflexo em espelhos e que não são capturados pela fotografia. E a característica mais importante, são seres marcados por sexualidade e vaidade.
A autora de Crepúsculo retratou vampiros que vivem a obsessão, principalmente, pelo sangue. A busca por sexo só acontece quando encontram seu parceiro, sendo que só se ligam a um único parceiro durante toda a sua existência.
Além disso, a personagem de Meyer engravida de um vampiro, o que somou no desagrado dos amantes da literatura fantástica. O que mais incomoda sobre isso, é que Bella e Edward não tem um comportamento de digno de mãe e pai. Mesmo depois de terem tido uma filha, eles continuam sendo apenas o casal apaixonado, que dá mais importância um ao outro, ao relacionamento deles, do que a sua filha.
Todos estes aspectos afastam a obra tão bem estruturada de Meyer da verossimilhança. Característica importantíssima em todas as produções literárias e, principalmente, na literatura fantástica, em que o principal desafio é narrar histórias e personagens que não pertencem a um mundo conhecido mas, de algum modo, poderiam ser reais.


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ser Jornalista

Ouvi dizer que escrever é se doar. E, de fato, o é, caros leitores silenciosos. 

Descubro todos os dias, de uma forma ou de outra, que ser jornalista é um desafio constante. Não que eu não imaginasse que fosse, mas de maneira nenhuma saberia dizer como esses desafios se apresentariam no meu dia a dia.

Sou sensível às minhas produções, tenho uma relação íntima com o que escrevo. Cada palavra que externiso é importante para mim, é uma parte de mim. Isso é bom e ruim ao mesmo tempo, especialmente em uma profissão na qual se espera algo dos seus textos, na qual eles não são apenas seus, mas da sua empresa, dos seus personagens, das suas fontes, da sua cidade. Cada pessoa que participa direta ou indiretamente da sua matéria, se sente um pouco dono dela.

"Acrescente essa frase", dizem. "Você não pode falar sobre isso", aconselham. "É melhor não publicar", ordenam. "Não gostei do que você falou", criticam. "Você podia citar aquilo lá", indicam. "Vamos deixar isso de lado por enquanto?", sugerem. "Talvez o título seria melhor dessa forma?", intrometem-se. "Você está fugindo da nossa linha editorial", explicam. "Faça de novo", repetem.

Ser jornalista é exercer a paciência, aprender a dominar o seu orgulho, entender os seus defeitos, reconhecer as suas falhas e não desistir. Nunca desistir. É reconhecer que sempre há algo para melhorar, é aprender a ouvir e a fugir do óbvio. É encontrar mais de um caminho e escolher eticamente qual seguir. 

De tudo o que já enfrentei, e acredito que foram poucas as coisas em comparação a jornalistas de longa data, o mais difícil é praticar o desapego. Amo meus textos como se fossem meus filhos, e em um puro instinto maternal, defendo-os com unhas e dentes. Ou, para ser realista, com meia dúzia de palavras teimosas e um par de olhos armados.

Apesar disso, fico feliz sempre que me deparo com um momento desses, um momento de confronto idealista, psicológico, profissional e intelectual, porque aos poucos vou aprendendo a lidar com essas situações. Elas me ajudam a amadurecer e me aproximam da profissional que quero ser.

Não tenho pressa para descobrir aonde o meu caminho está me levando, vou apenas seguindo e aproveitando tudo o que há para aproveitar. Vou olhar a paisagem, ouvir o mundo e descobrir, quando o momento chegar, o que devo fazer. Tudo o que eu quero, tudo o que importa mesmo, é viver isso tudo. Cada momento. Da vida pessoal, da vida profissional, das muitas vidas que vivemos em apenas uma.

"Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor, mas não tem poder". (Rubem Alves)

J.K. Rowling está de volta!

Mas Harry Potter, não.

Publicado para o blog Anunciador

Essa semana encontrei duas notícias sobre a J.K. Rowling, uma dizendo que a autora pensa em lançar uma "versão de diretor" dos livros da série Harry Potter, que foram escritos às pressas, e outra falando sobre o seu último lançamento, "Casual Vacancy", um romance adulto.

Apesar de seu novo livro, as pessoas sempre irão falar da série que conquistou milhares de fãs ao redor do mundo, quando o assunto for J.K. Rowling. Não importa quanto tempo passe ou quantos livros ela venha a publicar. Porém, apesar de toda essa adoração e aceitação sobre a série, a própria escritora não ficou muito satisfeita quando terminou.

De acordo com a reportagem publicada pelo iG, Rowling acredita que poderia ter feito um trabalho melhor se tivesse tido mais tempo. Talvez ela devesse trocar uma ideia com Christopher Paolini, que ignorou seu deadline e, ainda assim, não ficou completamente feliz com o seu trabalho. Apesar disso, assim como o autor de Eragon não tem planos para continuar sua saga, J.K. Rowling também não pretende lançar novos livros do universo bruxo.
"Foi como um assassinato dizer adeus (a Harry Potter). No que diz respeito a Harry, já deu para mim. Se eu tivesse uma ideia fabulosa que saísse daquele mundo, como eu adoro escrever sobre ele, eu o faria." (J.K. Rowling na entrevista publicada pela iG em 26/09/2012)
Fico feliz em saber que ela se sentiu da mesma forma que eu quando virei as últimas página e encontrei "33 anos depois". Demorei um bom tempo para decidir se queria ou não admitir que três décadas haviam se passado na história que eu acompanhei dos onze aos quinze anos.

Seja como for, J.K. seguiu em frente, assim como muitos dos seus leitores fanáticos. Agora, sua maior preocupação é saber o que as pessoas vão achar de seu novo livro, embora ela esteja corajosa para enfrentar as críticas.

"O pior que pode acontecer é que todo mundo diga: que ruim, deveria continuar escrevendo para crianças." (J.K. Rowling em entrevista publicada pelo Terra, em 22/09/2012)
Assim que conseguir colocar as mãos no seu novo romance, volto para fazer uma das coisas que adoro: criticar. Torço para que seja tão bom e encantador quanto foi a estória do meu amigo Harry.

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