Em novembro estréia a segunda parte
do último filme da saga Crepúsculo nos cinemas, e a data é mais do que adequada
para esquadrinharmos a série e discutir os pontos mais polêmicos. Entre
adolescentes histéricas e leitores incrédulos, os livros de Stephenie Meyer
ficaram na lista dos Best Sellers americanos por tempo suficiente para ser
respeitado, então, deixemos de lado o preconceito e o ceticismo e olhemos
tecnicamente para a obra.
Do ponto de vista estrutural, Meyer
conseguiu concluir os livros de maneira redonda, sem deixar buracos. O objetivo
da história é claro desde o início: Edward, o vampiro “vegetariano”, e Bella, a
humana destrambelhada, encontrarão um modo de ficarem juntos para sempre. Ao
redor dessa meta, Meyer enlaçou sua trama em um sistema de problemáticas em
cadeia.
Em Crepúsculo, a primeira
problemática aparece quando vampiros que não pertencem ao clã dos Cullen – ou
seja, vampiros que não se abstinham de sangue humano – aparecem na região e um
deles fica irremediavelmente interessado em matar Bella. Aqui, a problemática é
parcialmente resolvida, quando o namorado-vampiro da personagem e sua família
acabam com a ameaça e salvam a vida dela.
O segundo livro, Lua nova, apresenta
a segunda problemática central: o sofrimento de Bella ao ser abandonada por
Edward. O problema apresentado no primeiro livro fica em segundo plano, até o
momento em que a personagem descobre que Victoria, parceira do vampiro que
quisera matá-la no ano anterior, a está caçando para vingar a morte do seu
amado. A partir daí, o livro equilibra as duas problemáticas.
A segunda questão é resolvida quando a
personagem sai em busca do seu ex-namorado na Itália, acarretando na terceira
problemática da série: Bella terá que se tornar vampira ou será assassinada pelos
Volturi, um clã italiano de vampiros, o mais forte e influente do mundo de
Meyer.
Em eclipse, terceiro livro, a
primeira problemática terminará de ser resolvida. Uma guerra entre a vampira
Victoria e seu exército de vampiros recém-criados contra o clã dos Cullen e os
lobisomens que defendem a região. Terminada a luta, Bella aceita se casar com
Edward sob a condição de ser transformada em um deles no próximo ano.
Como fica evidente, o terceiro livro
termina com um indício de que a terceira problemática será resolvida logo no
início. Contudo, criativa como é, Meyer criou uma quarta problemática. Em
Amanhecer, quarto e último livro da série, Bella engravida de Edward logo após
o casamento. Ninguém conhece a natureza do bebê, pois nem mesmo os vampiros
achavam que era possível uma fecundação entre as espécies. A gestação avança
rapidamente, sugando a vida de Bella. Edward já não sabe se é capaz de salvar a
vida dela quando o momento do nascimento chegar e a personagem, por sua vez, se
recusa a fazer o aborto.
Apesar disso, o problema central só
chega após o nascimento da criança semi-humana. Pelas leis do clã italiano, é
proibido a existência de crianças vampiras, o conhecimento sobre a filha de
Edward e Bella leva os Cullen e todo o apoio que conseguem juntar, em uma
guerra contra os Volturi. A quarta e última problemática é resolvida, fechando
a cadeia da trama de Meyer.
A estrutura de corrente que Meyer
utilizou não é propriamente singular, porém, foi muito bem trabalhada, uma vez
que conseguiu concluir com êxito todas as problemáticas que criou e,
intercalando-as entre os livros, conseguiu relacionar todos os volumes, de uma
maneira a deixá-los interdependentes. Ao contrário de séries como “Fallen”, em
que os quatro livros giram em torno de uma única problemática, numa estrutura
linear, tornando o tempo narrativo incomodamente rápido.
Críticas
As maiores críticas sobre a série
são sobre os vampiros. Meyer distorceu a imagem original destes seres que são,
geralmente, retratados como noturnos, que morrem se forem atingidos pela luz
solar. Seres com presas afiadas, sem reflexo em espelhos e que não são
capturados pela fotografia. E a característica mais importante, são seres marcados
por sexualidade e vaidade.
A autora de Crepúsculo retratou
vampiros que vivem a obsessão, principalmente, pelo sangue. A busca por sexo só
acontece quando encontram seu parceiro, sendo que só se ligam a um único parceiro
durante toda a sua existência.
Além disso, a personagem de Meyer
engravida de um vampiro, o que somou no desagrado dos amantes da literatura
fantástica. O que mais incomoda sobre isso, é que Bella e Edward não tem um
comportamento de digno de mãe e pai. Mesmo depois de terem tido uma filha, eles
continuam sendo apenas o casal apaixonado, que dá mais importância um ao outro,
ao relacionamento deles, do que a sua filha.
Todos estes aspectos afastam a obra
tão bem estruturada de Meyer da verossimilhança. Característica importantíssima
em todas as produções literárias e, principalmente, na literatura fantástica,
em que o principal desafio é narrar histórias e personagens que não pertencem a
um mundo conhecido mas, de algum modo, poderiam ser reais.