terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ser Jornalista

Ouvi dizer que escrever é se doar. E, de fato, o é, caros leitores silenciosos. 

Descubro todos os dias, de uma forma ou de outra, que ser jornalista é um desafio constante. Não que eu não imaginasse que fosse, mas de maneira nenhuma saberia dizer como esses desafios se apresentariam no meu dia a dia.

Sou sensível às minhas produções, tenho uma relação íntima com o que escrevo. Cada palavra que externiso é importante para mim, é uma parte de mim. Isso é bom e ruim ao mesmo tempo, especialmente em uma profissão na qual se espera algo dos seus textos, na qual eles não são apenas seus, mas da sua empresa, dos seus personagens, das suas fontes, da sua cidade. Cada pessoa que participa direta ou indiretamente da sua matéria, se sente um pouco dono dela.

"Acrescente essa frase", dizem. "Você não pode falar sobre isso", aconselham. "É melhor não publicar", ordenam. "Não gostei do que você falou", criticam. "Você podia citar aquilo lá", indicam. "Vamos deixar isso de lado por enquanto?", sugerem. "Talvez o título seria melhor dessa forma?", intrometem-se. "Você está fugindo da nossa linha editorial", explicam. "Faça de novo", repetem.

Ser jornalista é exercer a paciência, aprender a dominar o seu orgulho, entender os seus defeitos, reconhecer as suas falhas e não desistir. Nunca desistir. É reconhecer que sempre há algo para melhorar, é aprender a ouvir e a fugir do óbvio. É encontrar mais de um caminho e escolher eticamente qual seguir. 

De tudo o que já enfrentei, e acredito que foram poucas as coisas em comparação a jornalistas de longa data, o mais difícil é praticar o desapego. Amo meus textos como se fossem meus filhos, e em um puro instinto maternal, defendo-os com unhas e dentes. Ou, para ser realista, com meia dúzia de palavras teimosas e um par de olhos armados.

Apesar disso, fico feliz sempre que me deparo com um momento desses, um momento de confronto idealista, psicológico, profissional e intelectual, porque aos poucos vou aprendendo a lidar com essas situações. Elas me ajudam a amadurecer e me aproximam da profissional que quero ser.

Não tenho pressa para descobrir aonde o meu caminho está me levando, vou apenas seguindo e aproveitando tudo o que há para aproveitar. Vou olhar a paisagem, ouvir o mundo e descobrir, quando o momento chegar, o que devo fazer. Tudo o que eu quero, tudo o que importa mesmo, é viver isso tudo. Cada momento. Da vida pessoal, da vida profissional, das muitas vidas que vivemos em apenas uma.

"Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor, mas não tem poder". (Rubem Alves)

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